Atingir um patamar de treino é uma experiência frustrante para qualquer atleta ou qualquer pessoa que tenha um objectivo de desempenho a alcançar. É aquele ponto em que, apesar do trabalho e do esforço, já não se vêem ganhos significativos no seu desempenho. Pode ser desmoralizante, especialmente quando se está habituado a um progresso constante.
O tempo que investimos seja a treinar, a estudar, a trabalhar, a aprender, muitas vezes não tem um resultado claro, evidente para nós e para os outros.
Há muito trabalho invisível no treino de atletas, os alongamentos, o preparar de refeições segundo o plano alimentar, o registo da hidratação, o preparar do equipamento, o treino mental, as conversas difíceis com colegas e treinadores, e com certeza muitas mais coisas que a maioria de nós não imagina.
Nos momentos em que se marcam golos, se atingem os tempos de qualificação, quando há vitórias, tudo é evidente, tudo faz sentido, até é possível esquecer todo o tal trabalho invisível.
Periodização do Treino
No treino físico é prática comum a periodização do treino em que fases diferentes têm objectivos diferentes, sendo que nesse planeamento é suposto ter em conta a recuperação adequada ao estímulo que foi feito.
De que forma é que olhamos para as emoções associadas aos diferentes períodos de treino?
Não será importante olhar para os momentos de carga física como momentos também de carga emocional?
Também há casos em que a recuperação é mais desafiante em termos emocionais, no caso de atletas que acreditam que mais é sempre melhor, e que têm dificuldade em parar pelo elevado grau de exigência que têm.
Progresso Inicial
Quando se começa algo de novo, é costume haver uma progressão mais evidente relativamente ao ponto de partida, há mais entusiasmo, mas inevitavelmente atingimos um patamar em que a evolução parece parar.
Como reagimos nesse patamar?
Ficamos zangados? Tristes?
Na natureza temos uma grande quantidade de exemplos de transformações que não estão visíveis a olho nu, sendo uma das mais conhecidas o processo em que a lagarta entra num casulo e sai de lá uma borboleta.
Em termos físicos parece mais ou menos evidente quando estamos a avançar e quando não estamos.
E em termos psicológicos e emocionais?
Também aí vão acontecendo pequenos movimentos que não nos são evidentes, mas que para os outros, especialmente aqueles que não estão connosco com frequência reparam.
Estas alterações podem ser no sentido desejado, em que nos sentimos mais capazes de lidar com os desafios da vida, ou no sentido contrário, em que os estados ansiosos ou de incapacidade de dar uma resposta adequada às solicitações do nosso dia-a-dia, onde se inclui o alcançar dos nossos objectivos.
Lembro-me de dois casos, um mais antigo e um mais recente, em que grandes atletas tiveram fases em que não estavam a atingir os resultados desejados.
Em 2010, o Cristiano Ronaldo esteve sem marcar qualquer golo durante 4 meses, e nas últimas olimpíadas o basquetebolista Steph Curry marcou “apenas” 28 pontos em 4 jogos, mas nos últimos dois jogos, meia-final e final marcou 36 e 24 pontos, respectivamente.
Será que treinaram menos? Duvido.
Por vezes acontece, de que forma podemos aceitar isso?
Simplesmente continuando a trabalhar e acreditar que vai acontecer.
Como disse o Steph Curry numa entrevista durante os jogos, “eu sei que vai voltar” – referindo-se à sua capacidade de fazer lançamentos, ao que o seu colega de equipa Lebron James acrescentou “podes crer que sim”.
Podemos ficar frustrados, e passar a encarar cada momento com uma tensão acrescida e desnecessária, mas também podemos continuar a fazer aquilo que precisamos de fazer e acreditar que tudo passa, porque na verdade, tudo passa mesmo.
Os Patamares fazem parte
Quando estamos num patamar em que não nos sentimos avançar podemos questionar se estamos no caminho certo, e sim, podemos estar e podemos não estar.
Aceitar onde estamos, permite avaliar aquilo que realmente queremos e o que estamos dispostos a fazer por isso.
Forçar não é o caminho
Um exemplo mais leve será se, estou a vestir as calças e acho que vestir as calças até meio me faz poupar tempo no processo, sabendo que quando tentar correr irei com certeza cair.
Provavelmente há pressões para que o patamar passe rápido, ou que nem nunca aconteça, mas essas pressões contribuem para a permanência no patamar.
O foco passa estar na pressa, no fugir do desconforto, em vez de aproveitar o desconforto e crescer com ele.