“Não é vida ou morte; é atletismo.”
A frase é da Phoebe Wright, atleta que chegou a ser campeã nacional americana de pista coberta.
E do que é que ela fala?
Fala da sua forma de lidar com o nervosismo que sentia antes das competições e era relativizando, tornando mais real aquilo a que se propunha, o que lhe permitia estar no seu melhor.
Não está a retirar importância aos seus desafios, apenas lhes dá a importância que na realidade têm.
Ela continua este diálogo interno lembrando a si própria que “as únicas pessoas que realmente se importam com o meu desempenho são os amigos, a família, algumas centenas de nerds do atletismo e, claro, eu própria”.
A perspetiva não significa minimizar a importância do acontecimento, mas sim reenquadrá-lo ao seu nível correto. Sempre que nos deparamos com uma situação stressante, temos tendência a sobrestimar a sua importância.
Um aluno antes de um teste pode considerar aquele momento como definitivo e definidor do seu futuro, e arrisco-me a dizer que será muito difícil estar na posse de todas as suas capacidades se se sentar com esse modo de encarar o teste.
Um teste escolar é importante, mas o que é que pode acontecer se correr mal?
- Os pais zangam-se?
- O professor fica desapontado?
- O aluno encara o tempo que esteve a estudar como desperdício?
- A média baixa e dificulta o acesso ao ensino superior?
São tudo possibilidades reais, mas que no momento de fazer o teste não contribuem para uma melhoria do desempenho.
Há atletas que preferem colocar mais pressão nas suas competições como forma de aumentar o seu foco, tendo um discurso interno que relembra a importância do momento, mas também quais os recursos que possuem para lidar com o desafio.
Seria qualquer coisa do género:
– “Se eu passar esta eliminatória passo ao quadro principal do torneio, e dessa forma torno-me mais visível para possíveis patrocinadores.” – Algo que poderá aumentar a pressão de ter um bom resultado.
– “Mas tu treinaste bastante para estar aqui, estás cada vez mais forte e do outro lado está um jogador que não é perfeito, hoje poder ser o teu dia.” – Foco no seu processo e uma avaliação realista das suas possibilidades.
Quando falamos com alguém sobre um desafio que possamos ter, essa pessoa trará uma perspectiva diferente da que temos, que normalmente nos ajuda e complementa a visão que possamos ter.
É essencial ter a capacidade de nos distanciarmos o suficiente para olhar para os desafios como oportunidades.
Já ouvimos alguém dizer que “é o jogo da sua vida”, mas será mesmo?
Há situações limite na vida das pessoas, sem dúvida que há. Mas qual a percentagem de situações que consideramos como de vida ou morte, o são na realidade?
Um lançamento falhado, uma resposta negativa a uma proposta, fazem parte da vida não são a vida.
Pensar na terceira pessoa é uma das ferramentas que podemos usar para nos distanciarmos o suficiente.
O exercício pode ser pensar de que forma olharíamos para a situação se estivesse a acontecer a outra pessoa. Podemos escrever o que surge e avaliar quais as reais consequências para a vida dessa pessoa, que no fundo somos nós.
Podemos complementar o exercício partilhando com um amigo, um psicólogo, que nos darão uma perspectiva mais isenta em relação ao desafio que se fosse pensado na primeira pessoa poderia ser incapacitante.
Perguntas que se podem fazer:
- Qual é o pior cenário possível?
- Os teus pais e amigos continuarão a amar-te e a apoiar-te se falhares?
- Quantas pessoas se preocupam verdadeiramente com o teu desempenho nesta atividade?
- De quem são as opiniões e os conhecimentos realmente importantes?
Alegria e comunidade
A Carissa Moore, campeão mundial e olímpica de surf, falou no podcast Finding Mastery sobre o seu nervosismo antes de entrar para a final dos jogos olímpicos, e que o seu namorado lhe disse “Se alguém consegue fazer isto, és tu e eu amo-te”.
Ao ouvir isto a sua confiança voltou, primeiro porque acreditava nas palavras do seu namorado relativamente à sua capacidade de ganhar, mas também saber que acontecesse o que acontecesse, o amor dele nunca estaria em causa.
Na mesma entrevista ela fala o que é estar no máximo da sua confiança, ela referiu:
“Há alegria. Há um entusiasmo. Não há medo ou dúvida. Estou apenas preparada.
Quero dar tudo o que tenho. Se não resultar, há também esta paz.”
Essa paz, e essa confiança vêm da segurança das pessoas que realmente são importantes para ela e que estarão para ela, quer seja campeã, quer não seja.
A confiança e a concentração não são incompatíveis com a alegria e com a diversão.
A capacidade de nos divertirmos e de termos alegria no que fazemos é o que nos permite manter mais tempo na tarefa, e é o compromisso diário que nos vai fazer cada vez mais competentes, e por consequência mais bem-sucedidos.
E o sucesso passa sempre por ter as pessoas importantes ao nosso lado.
“Os que importam não se importam e os que se importam não se importam.”
Dr Seuss
Photo by Troy Williams