Ordem, Desordem, ReOrdem

Todas as coisas são difíceis antes de serem fáceis.

Thomas Fuller

A mudança é a única certeza que temos.

Não há escapatória.

A mudança é o processo entre duas situações, e esse processo pode tomar muitas formas.

Mudar de casa, por exemplo, é um processo entre a ordem que temos na actual casa, a desordem de retirar objectos dos armários, o reordenar dos objectos em caixotes, para voltar a destruir a ordem de objectos em caixotes para a desordem de abrir caixotes e retirar os objectos, até os voltarmos a reordenar no seu novo local.

Se ainda estão a ler isto, é porque gostam da palavra objectos.

No momento em que pensamos em mudança, existem diferentes abordagens que estão muito relacionadas com o modo como encaramos a mesma.

Há pessoas que se focam onde estão e onde querem estar, vêem a ordem inicial e a ordem final.

Há pessoas que se focam onde estão e na desordem do processo.

Ambos os casos não conseguem ver o que realmente é um processo de mudança.

Apesar do processo implicar custos (energéticos, físicos, financeiros, pessoais…), há algo que desencadeia um movimento de ruptura com a ordem estabelecida, pode ser o desconforto da ordem actual, ou o desconforto de saber que as coisas podem ser melhores.

Queremos começar a treinar e só melhorar.

Queremos mudar de clube e tudo correr bem.

Queremos mudar os métodos de treino e tudo correr bem.

A realidade é que não há mudanças sem desordem.

A segurança da ordem é sedutora, mas pode ser uma prisão.

Mais do que ambicionarmos uma segurança permanente, talvez seja importante estar consciente das etapas da mudança e prepararmo-nos para navegar todas o melhor possível.

Ordem – sabemos onde estamos, sabemos onde estão as coisas, sabemos com quem podemos contar.

Desordem – não estamos onde queremos, não sabemos onde estão as coisas, não temos a certeza com quem podemos contar.

ReOrdem – uma nova realidade, onde elementos antigos se juntam a elementos novos ou são agrupados de outra forma.

A ordem não tem de ser algo negativo, mas é fundamental estar consciente das nossas motivações para escolher não mudar. Escolher não mudar é uma escolha, e cabe a cada um decidir o que quer.

A desordem é temida por muitas pessoas, enquanto outras a procuram e se sentem tranquilas na falta de pontos de referência. A capacidade de navegar a desordem vai depender da confiança que temos em criar uma nova ordem, a tal reordem.

A reordem é mais uma etapa no processo de mudança, que nunca será uma etapa final (a mudança é uma constante, lembram-se?), é a etapa onde criamos uma nova realidade que pode ter de ser ajustada continuando o processo.

Confiamos na nossa capacidade de suportar a desordem?

Confiamos na nossa capacidade de criar uma nova ordem (reordenar)?

São estas as perguntas a fazer quando queremos, precisamos, de embarcar no processo de mudança.

O que pode ajudar aqui?

Optimismo

O otimismo é uma mentalidade que mantém a esperança e encontra significado apesar da dor, perda e sofrimento inevitáveis da vida. A investigação mostra que as pessoas que o têm reagem melhor aos desafios e ao stress.

Os pessimistas dizem a si próprios que os acontecimentos maus:

– Vão durar muito tempo, ou para sempre. (“Nunca vou conseguir fazer isto.”)

– São universais. (“Não se pode confiar em nenhuma dessas pessoas.”)

– São culpa deles próprios. (“Sou péssimo nisto.”)

Os optimistas, vêem exatamente o oposto:

– As coisas más são temporárias. (“Isto acontece ocasionalmente, mas não é nada de especial.”)

– As coisas más têm uma causa específica e não são universais. (“Quando o tempo estiver melhor, isto não será um problema.”)

– A culpa não é deles. (“Eu sou bom nisto, mas hoje não foi o meu dia.”)

Não se trata de não sentir dor, trata-se de ver para além da dor, que também essa mudará.

A necessidade de ordem nas nossas vidas prende-se com a necessidade da segurança que saber onde estão os chinelos, onde deixamos o carro, se vamos ter comida ou se teremos sítio para viver.

A maior segurança é sabermos que poderemos confiar na nossa capacidade de arranjar os recursos necessários, seja criando-os, esforçando para os alcançar ou dependendo das nossas relações pessoais.

O nosso ambiente pode promover a segurança, ou não, mas também podemos nunca nos sentirmos seguros num ambiente que o é, apenas não o reconhecemos como tal. As nossas experiências de vida podem influenciar a forma como percebemos a presença da segurança ou a falta dela.

Confiamos em nós, na nossa capacidade de lidar com o ambiente, mesmo que não seja seguro?

A capacidade de lidar com a insegurança do ambiente pode passar por nos retirarmos dele.

Como construir confiança?

Tentando.

Não há atalhos.

Nunca saberemos com 100% de certeza que somos capazes de fazer algo sem experimentarmos fazê-lo. Podemos ter milhões de pessoas a dizer que acreditam na nossa capacidade, mas se nada fizermos, continuamos a não confiar.

Qual o grau de desconforto que somos capazes de suportar hoje no nosso processo de mudança?

Qual o significado que mudar tem para nós?

Posso falar na primeira pessoa, já me limitei muito por não acreditar nas minhas capacidades, mesmo com pessoas a acreditar em mim, e aprendi a tentar por muito doloroso que me seja, ficar paralisado à espera de ordem nunca me traz a reordem que preciso.

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