Medo de Falhar

“Odeio perder, mas não o temo.”

Rafael Nadal

Nesta frase, Rafael Nadal, revela que quer ganhar, esforça-se por ganhar, ao mesmo tempo que revela a consciência que perder faz parte do jogo.

Quando ambicionamos a vitória, o sucesso, existe um desejo de que tudo corra de forma favorável, sem partes negativas, sem o desconforto de falhar, contudo sabemos que é irreal, ou melhor, dificilmente alguma situação à qual damos grande valor irá ser só sucesso, sem desafios pelo caminho.

No contexto desportivo existe grande implicação no que toca a resultados, exigem-se vitórias, valorizam-se os vencedores, recusam-se derrotas e criticam-se os perdedores. Os resultados e a performance dos atletas poderão afetar a sua autoestima, motivação e visão do mundo, quanto maior for a importância atribuída pelos indivíduos ao seu papel como atletas.

Falhar e medo não teriam de estar relacionados.

O que acontece é que os atletas que têm medo de falhar aprenderam a associar a falha com consequências negativas e entendem o falhar como uma ameaça, experienciando medo e apreensão em situações em que exista avaliação da sua performance, e de que forma essa avaliação impacta o alcançar objetivos significativos para si.

Será importante trazer para a conversa uma definição de medo de falhar.

“O medo de falhar, ou o motivo para evitar a falha, é a tendência para analisar a ameaça em situações de avaliação em que o fracasso é uma possibilidade.” (Taylor, Eklund & Arthur, 2021)

Como vemos na definição é uma tendência, olhar para o fracasso como uma ameaça, onde este é uma possibilidade. Nada aqui fala de certezas, é um modo de olhar para situações de avaliação, e onde falhar é uma das possibilidades, não a única.

Quando o medo de falhar, associado a pensamentos intrusivos que por vezes causam ansiedade, toma conta dos atletas, o falhar passa a ser a principal possibilidade, se não mesmo a única.

A capacidade de focar no que querem que aconteça passa para segundo plano, e em vez de usarem os recursos para implementar a sua estratégia de sucesso, passam a estar focados em tudo o que pode e vai correr mal.

Quais as implicações de correr mal?

Especificamente, não será o fracasso por si próprio que o atleta tenta evitar, mas sim as suas consequências.

Existem muitas, podem ser financeiras, podem ser lesões, e podem ser questões de vergonha, o modo como os atletas preferem ser vistos pelos seus pares, familiares ou mesmo um público mais alargado.

No caso dos atletas jovens, as financeiras são menos comuns, mas o modo como são vistos pelos outros está muito presente.

Para atletas que apresentam níveis elevados do medo de falhar, todas as atividades de realização não são percecionadas como oportunidades de aprendizagem ou de desenvolvimento pessoal, mas sim como atividades a temer que serão avaliadas de um modo que ameaçam a autoestima.

Sobretudo na adolescência, a forma como são vistos pelos pares, treinadores e pais é particularmente importante. São estes os três principais grupos para os quais os jovens atletas tentam ter uma imagem positiva.

O modelo multidimensional sugerido por Conroy et al. (2002) consiste em cinco crenças sobre as consequências de falhar que os indivíduos associam como ameaça percebida e medo, e são eles:

  • (1) experienciar vergonha e embaraço quando falham, que estarão relacionados com crenças de como se apresentam ao mundo e uma diminuição pessoal de importância;
  • (2) ter um futuro incerto, que estão relacionados com as crenças de perder oportunidades futuras;
  • (3) desvalorização da estimativa que têm sobre si e que está relacionada com as crenças de terem pouca habilidade e controlo sobre a sua performance;
  • (4) outros importantes perderem interesse, que está relacionado com a crença de perder valor e influência no domínio da performance;
  • (5) preocupar outros importantes, que está relacionado com as crenças da desaprovação por parte destes e a perda de afeto após a falha.

Sabendo isto, o que é que podemos fazer para ajudar os atletas a não temer o falhar?

Do que a investigação e a minha experiência me dizem, serão principalmente duas áreas a focar:

  1. Reforçar continuamente que a falha faz parte de qualquer processo quando alguém que tenta dar o seu melhor. Cada vez que não acertamos, estamos a aprender o que não fazer e aproximamo-nos do nosso objectivo. É no “esticar a corda” que percebemos qual o comprimento da mesma.
  2. Valorizar os aspectos que vão para além da performance, do resultado, da vitória. O esforço, o compromisso, as competências humanas, a qualidade das relações que criamos e mantemos, assim como valorizar outras áreas da vida que não estão directamente relacionadas com a performance desportiva.

O Nadal sabe do que fala, a sua aceitação da derrota é parte do que lhe permite estar preparado para vencer.

Photo by DAVID ILIFF. License: CC BY-SA 3.0

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