O Poder da Curiosidade

“Não tenho qualquer talento especial. Sou apenas apaixonadamente curioso”

Albert Einstein

Os seres humanos nascem curiosos, exemplo disso é que quando o nosso vocabulário já o permite, entramos na idade dos “porquês”.

Porquê, saber as razões que levam a determinadas escolhas e decisões parece fazer parte de quem somos.

Vamos crescendo com mais ou menos respostas que nos satisfazem, e podemos desenvolver mais a nossa curiosidade dependendo da capacidade dos adultos à nossa volta para ter as respostas necessárias, para admitir que não sabem, e acima de tudo serem também eles curiosos em relação ao mundo e ao pequeno ser que têm à frente.

A curiosidade é, no meu entender, um super-poder.

A capacidade de questionar, de abrir espaço a novo conhecimento, mas acima de tudo conseguir estar com o “não saber” são ferramentas que nos podem servir para quase tudo na vida.

No estabelecer de objectivos, por exemplo, podemos saber onde queremos chegar e não saber como lá chegar. Posto isto, podemos desesperar, ou adoptar uma postura de “não sei, mas vou descobrir”. Posso nem saber qual o objectivo, e também aí podemos estar curiosos sobre todas as situações que encontramos e começar a tomar nota das coisas que sentimos estarem mais alinhadas connosco.

A curiosidade revela flexibilidade psicológica, quando estamos em estados mais ansiosos ou depressivos, tendemos a ver apenas um resultado, e não é algo que desejamos. Em casos de ansiedade imaginamos que algo irá acontecer, para o qual não acreditamos ter os recursos necessários para responder de forma ajustada. Por exemplo, um jogo importante aproxima-se e imaginamos que iremos falhar de alguma forma, que iremos ser julgados pela falha, que vamos perder o respeito dos outros. Neste momento já não conseguimos ver outras possibilidades.

A curiosidade entra aqui para ajudar.

“E se eu falhar? E se os outros me criticarem? E se perder o respeito dos outros?”

Quando questionamos não negamos que estas situações poderão acontecer, mas estamos focados em encontrar formas de evitar ou resolver caso aconteçam.

Agora voltamos a estar focados naquilo que controlamos, o único sítio onde temos o poder de fazer alguma coisa.

A curiosidade retira pressão sobre o resultado, foca-nos naquilo que podemos fazer.

“Será que consigo dar o meu melhor na próxima jogada/prova/competição?”

“O que aconteceria se eu comunicasse mais com os meus treinadores/colegas de equipa/pais?”

Os pais, por exemplo, podem usar essa curiosidade para desenvolver maior empatia com os seus filhos. Em vez de interpretar uma reacção mais brusca como algo de errado na educação da nossa filha, podemos questionar até internamente: “eu sei que a minha filha é uma boa rapariga, o que é que a levaria a ter uma atitude daquelas?”

Neste momento não estamos a julgar, estamos focados em entender para nos ligarmos à nossa filha, e ao estarmos ligados à sua experiência abrimos espaço para que a partilhe connosco. Quando partilhamos os nossos desafios deixam de ser tão grandes, tão avassaladores, e passam a ser algo que podemos encontrar formas de acolher e lidar.

Como desenvolver a curiosidade?

Prestar atenção. Ao reagir automaticamente fechamos a possibilidade de ver outras coisas.

Ouvir mais do que falamos. A curiosidade é abertura à experiência, nossa e dos outros.

Perguntar. Transformar uma afirmação numa pergunta revela disponibilidade para conhecer e alterar. Por exemplo:

“O meu filho é preguiçoso!”

Vs

“O meu filho é preguiçoso?”

Até pode ter alguma resistência a iniciar determinadas tarefas que gosta menos, mas se estivermos curiosos vamos encontrar áreas onde a “preguiça” não está presente e reforçar esses comportamentos em vez de estar sempre a combater o comportamento que pretendemos reduzir.

Ver o desconforto de “não saber” como algo que vem antes e faz parte de algo positivo. Não há crescimento sem desconforto. Se queremos ser melhores amanhã do que aquilo que somos hoje, teremos de permitir que o “não saber” esteja presente, da mesma forma que os músculos resistem exercícios novos ou mais exigentes.

“Não sei”, deve ser das respostas mais poderosas que podemos dar, se vier acompanhado de, “mas vou descobrir”.

Rui Branco
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