Tornar-se um Campeão nunca acontece sob o aplauso geral. É um acto de resistência.
François Ducasse
O “mau aluno” costuma ser aquele que, mais do que tirar más notas, é aquele que tem comportamentos de rebelião, de desafio.
Falta de Interesse
Existe por vezes a tendência a confundir falta de interesse por falta de motivação ou até falta de capacidade para aprender.
Quando uma planta não se está a desenvolver como esperado, procura-se entender se o solo ou as condições atmosféricas poderão estar a limitar esse mesmo crescimento.
No caso de muitos alunos e atletas procura-se primeiro saber o que há de errado com os mesmos, em vez de tentar perceber se o ambiente tem as condições necessárias para o seu desenvolvimento ótimo.
Se um professor ou um treinador não entende o que o seu aluno ou atleta necessita, poderá não despertar o interesse para a aprendizagem.
Alguns alunos/atletas, desligam e simplesmente fazem os mínimos ou desistem. Outros, os rebeldes, os “malandros”, os reguilas, procuram um espaço onde criar as condições que os fazem estar interessados e motivados.
Essa busca criativa de estímulos causa muitas vezes conflitos com as regras estabelecidas uma vez que foram pensadas sem ter em consideração as diferenças de modos de aprender e o que desperta curiosidade.
Rebeldia
Não há uma resposta definitiva a esta pergunta.
Podemos, contudo, é questionar se a falta de motivação não será quase sempre uma divergência entre estímulo oferecido e estímulo percebido.
O “mau aluno” vai explorar mais, vai ser mais criativo, mais inventivo, mais exigente, mais caprichoso, mais temperamental.
Por vezes será mais difícil de gerir, mas se pensarmos naquilo que o atleta, e até a equipa podem ganhar, não valerá a pena aproveitar a sua rebeldia?
O actual treinador do Nélson Évora, Mário Aníbal referiu no 2º Seminário de Saúde Mental no Desporto de Alta Competição, organizado pela AAOP (Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal) que sempre preferiu os atletas, malandros, os reguilas, malcomportados, os problemáticos, precisamente pela capacidade que têm de desafiar e também se desafiarem. Interessante também, foi o actual treinador do Diogo Ribeiro concordar com esta preferência.
Dennis Rodman – o Bad Boy
As pessoas que gostam de basquetebol e ou, já tenham visto a série “Last Dance” sobre os Chicago Bulls, conhecem o jogador Dennis Rodman.
Ele personifica a atitude de rebeldia, mas que todos concordam, ter sido peça chave para o sucesso da equipa. A energia que trazia para dentro de campo era essencial, e essa mesma energia era o que o levava a ter alguns comportamentos menos alinhados com o que seria esperado.
Será que conseguimos ter a energia dentro de campo sem a rebeldia?
Existem mais casos conhecidos, como por exemplo Zinedine Zidane, além de campeão do mundo pela França, tem também no seu currículo 14 cartões vermelhos entre eles um por ter dado uma cabeçada noutro jogador. O seu valor como jogador é inquestionável, a sua intensidade e vontade de ganhar levaram a que por vezes tivesse comportamentos excessivos.
Problemas de seguir as regras
Num estudo recente sobre râguebi na Austrália (Marshall et al., 2024) tentaram perceber possíveis razões que pudessem justificar de que forma uma seleção conceituada como a australiana é eliminada na primeira ronda do Mundial de 2023.
Uma das razões apontadas foi o compromisso da Austrália com uma abordagem altamente estruturada do râguebi ofensivo tem sido um fator chave para o atual declínio de desempenho que está a sofrer.
Nesta abordagem os jogadores só podem seguir um plano escrito e são ativamente desencorajados de serem “livres-pensadores” e de procurarem soluções alternativas para os problemas que surgem.
Incapazes de se adaptar, diminuem o seu desempenho.
Gerir e Aproveitar a Rebeldia
A rebeldia que alguns atletas e alunos possam trazer para contexto de treino, competição ou sala de aula, deve ser acima de tudo compreendida.
Não quero fiquem com a impressão de que apoio comportamentos de desrespeito, apenas por um desafio vazio de intenção e significado, defendo sim que existem formas de aproveitar as opiniões divergentes.
Aos Pais, Professores e Treinadores, cabe a responsabilidade de dar espaço à discussão aberta de vários pontos de vista.
Desse espaço surge o entendimento que o pensamento livre tem valor e é permitido, e quando somos ouvidos, mais facilmente aprendemos a ouvir os outros.
Nem sempre os rebeldes terão razão, nem sempre ficarão satisfeitos com as decisões tomadas pelos pais, professores, treinadores, pela equipa, mas a segurança de poder partilhar os seus pontos de vistas é extremamente valiosa.
No caso da sala de aula ou de equipas, quando o pensamento livre é aceite, criamos as condições para que mais alunos ou atletas experimentem pensar livremente e se abram à experiência de tentar fazer diferente.
Tomada de Decisão
A tomada de decisão deve ser baseada no conhecimento prévio e na análise do momento, e depois escolher com base no que sabemos e lemos no momento.
Quando a liberdade de tomar decisões é aceite e estimulada, teremos pessoas mais capazes de analisar a situação e com a capacidade de criar respostas mais eficazes, fundamentadas pelas aprendizagens e ajustadas ao desafio presente.
Os “maus alunos” também tomam boas decisões, precisamos é de confiar nessa sua visão por vezes divergente, aproximando-nos deles, aceitando os seus erros, assim como podemos e devemos aceitar os dos “bons alunos”.
Acima de bons ou maus alunos, queremos pessoas capazes e curiosas.
A inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança.
Stephen Hawking